27.3.12

Sem nós


Foi aqui que te conheci. Em mais uma daquelas noites que agente só procura diversão. Lembro bem de você chegando e me chamando pra dançar, lembro da forma leve como sorria e das suas mãos desajeitadas sem saber onde pousar. Lembro do seu perfume amadeirado, do seu jeans casual e do cabelo despenteado– macio. Lembro como se fosse hoje.  E será sempre hoje enquanto eu lembrar. Lembro de nós dois sentados na calçada, você não ligou pros meus olhos borrados e minha descompostura ao tirar a sandália. Pedimos um táxi e conversamos mais uma hora no portão. Vez ou outra o assunto se perdia dando voz ao nosso olhar, que pedia. Lembro da sua barba por fazer roçando-me o rosto. O coração batendo mais acelerado e algo quente, muito quente, dançando pelo meu corpo. Medo, expectativa, emoção, alívio e felicidade. Nosso primeiro beijo. Um abraço e um sorriso. Lembro de te ver caminhar de frente pra mim até a esquina acenando e mandando beijos com as duas mãos – antes de dobrar você desenhou um coração no ar e, dentro dele, escreveu meu nome. Lembro que nessa noite não dormi. E te escrevi uma carta – daquelas que nunca mandei. Quando o telefone finalmente tocou no dia seguinte senti medo de atender. Medo de não ser você. Medo de ter acordado. A voz rouca quando disse ‘Oi, você está aí?’escorreu-me leve como quem se livra de um peso. Era você. Saímos, tomamos sorvete, passeamos no parque. Falamos sobre filhos, sobre música e poesia. Quando me dei conta já acordava pensando em você, quando vi já estava fazendo contagem regressiva até a hora de você chegar, quando me dei conta já estava enlaçada no seu abraço e eu e você já éramos nós. Quando percebi tomávamos banho na chuva, quando vi estávamos assistindo filmes na sala. Você roubava flores dos canteiros alheios pra me dar. Quando me dei conta você sumiu. Quando me dei conta você ia embora de costas, sem acenar nem mandar beijos. Quando me dei conta você nem aparecia mais. Quando percebi eram outras vozes que falavam do outro lado do telefone. Quando te liguei uma voz desconhecida não sabia de você. Quando fui a sua casa encontrei uma placa de vende-se. Me perdi. Te perdi antes mesmo de te achar. E, quando finalmente te encontrei você havia mudado de mim..
E foi aqui que te conheci. E aqui, novamente, eu estou. Sentada, sozinha em mais uma dessas noites que a gente só quer sumir. Mesa vazia e coração transbordando. Os dedos beirando o copo de cerveja que é, enfim, minha única companhia no momento. Sem mim. Sem você. Sem nós. As vozes pareciam distantes, muito distantes. As luzes piscavam em ritmo triste. A música alta não consegue abafar a voz – louca, rouca, cansada - que grita seu nome aqui dentro de mim. Tanta gente ao meu redor e eu de olhos vidrados na porta, me perguntando onde estaria você. Por onde anda o amor que um dia partiu antes mesmo de chegar? Tanta gente ao meu redor e eu de olhos vidrados na porta por onde você entrou e nunca mais saiu. - Simone Oliveira

6 comentários:

Monalisa Macêdo. disse...

Lindeza, Flor!
Beijoo, ótimo final de semana!

Anônimo disse...

Adorei Simone! Paixões que chegam quando menos esperamos e vão embora do mesmo modo... E como sei o que é isso, rsrsss
Beijos, bom domingo e lhe aguardo no meu canto.

Ana Flávia Sousa disse...

As vezes uma solidão e saudade trás pra gente uma doçura só de escrita! Olha só!

Beijos.

Marcela disse...

Simone que texto lindo! Amei achar seu blog agora eu volto sempree e pode deixar que ao contrário do texto eu volto mesmo rs Parabéns Bj;)*

Anônimo disse...

Texto mega verdadeiro...
Amei!
Beijos
doismilsegredos.blogspot.com

Iorgama Porcely disse...

Oi Simone, vim te seguir aqui também. rsrs

Os sentimentos não obedecem uma ordem, não são previsíveis nem fáceis de serem controlados. Deveriam, mas não são.