22.3.12

Ando assim

Sabe, você está certo. Eu não sou mesmo mais a mesma. Muita coisa mudou em pouco tempo –  talvez. É, as coisas mudam. Eu também mudei. Já não penso como há alguns anos atrás, me sinto mais complacente e mais chata também. Desconfio que isso é tornar-se adulto. Adulteci, então – ou não. Depois de um tempo, algumas coisas passam a ter significado, já outras, perdem o sentido. Lembro da minha pressa, do meu passo rápido tropeçando nos ponteiros do relógio. Bobice ter pressa. Agora ando devagar que é pra enxergar os detalhes. Antes deixava meus sonhos me levarem, hoje sou eu quem os leva – amarradinhos no dedo que é pra não esquecer. Antes não sabia o que queria e, confesso, continuo sem saber – nunca saberei. Mas, já sei bem o que não quero. Não quero muito, não quero excessos. Quero bolsa leve, batom carmim, um coque frouxo no cabelo e um sorriso despretensioso. Ando mais solta, sabe, mais leve e mais egoísta: ando pensando mais em mim. Parei de correr atrás das pessoas e de tentar agradar. Em ausência, somos mais notados. Hoje, cuido mais de mim – cuido mais dos outros. Desatei algumas amarras, joguei janela afora as roupas velhas, desapeguei do lençol velho epuído, doei os sapatos que já não me cabiam. Ando mais sagaz. Libertei alguns monstros, deixei que seguissem seu desatino, a mim não assustam mais. Ando mais comedida e mais inconsequente, ao mesmo tempo. Mudei de casa e de ares. Há muito joguei fora o vestido bordado e o laço de fita, desabitei-me da rotina e dos costumes de menina que aqui teimavam em viver. Moro, agora, em mim. Moro na mulher que nasce, ainda meio torta, meio desajeitada. Vivo no que sinto e no que busco. Sigo por outros caminhos, procuro outros rumos. Não quero mais me encontrar, quero mais é me perder. Me perdendo, talvez, encontre meu rumo, enfim. Impossível não ver. Mudei de atitude e de vontades. Mudei das pessoas e de suas manias fingidas. A vida vem e nos leva de qualquer jeito, escolhi não viver de qualquer jeito. Ando brincando de ser gente grande, pregando peça na seriedade do mundo. Tiro um coelho da cartola por dia, ando me surpreendendo. Ando com fome. Fome de viver. – Simone Oliveira

"Estou mais atrevida, mordaz e ferina. Estou cheia de vida, sagaz e ladina. Já não sou mais a mesma. Respiro outros ares. Navego outros mares. São tantos olhares, convites, sorrisos. Eu gosto, eu preciso, pois é..." ♪
(Atrevida - Simone Bittencourt de Oliveira)


Um comentário:

Mariana Penna disse...

Menina, parece que você me descreveu. Vou ser obrigada a roubartilhar e postar lá no blog, rs. Amei!!

Como dizia Caio: Arrumar as gavetas, jogar as coisas fora...!!

Um beijo!!